
Desde o início da pandemia de Covid-19, no final de 2019, início de 2020, aprendemos muito sobre a doença causada pelo coronavírus (SARS-CoV-2). A maioria das pessoas infectadas apresentam sintomas leves a moderados e se recuperam em poucas semanas. No entanto, uma parcela significativa continua a apresentar queixas por meses — mesmo após a fase aguda já ter passado.
Essa condição é chamada de Covid longa ou síndrome pós-Covid.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10% a 20% das pessoas que tiveram Covid-19 podem desenvolver sintomas persistentes. Isso significa que milhões de pessoas no mundo ainda enfrentam os impactos da doença, mesmo depois de estarem “curadas” da infecção inicial.
O que é Covid Longa?
A Covid longa é caracterizada pela persistência ou pelo reaparecimento de sintomas após 4 semanas do início da infecção pelo coronavírus, sem uma nova infecção no mesmo período.
Esses sintomas podem durar meses e variar de intensidade. Algumas pessoas conseguem manter sua rotina, mas com limitações, enquanto outras enfrentam dificuldades para trabalhar, estudar ou realizar tarefas simples do dia a dia.
Principais Sintomas da Covid Longa
A lista de sintomas é extensa, e eles podem variar entre diferentes pacientes. Os mais comuns incluem:
- Fadiga intensa: um cansaço que não melhora mesmo após descanso.
- Falta de ar: dificuldade respiratória, mesmo em atividades leves.
- “Nevoeiro mental” (brain fog): problemas de memória, atenção e concentração.
- Distúrbios do sono: insônia ou sono não reparador.
- Palpitações e dor no peito.
- Dores musculares e articulares.
- Alterações gastrointestinais: diarreia, náusea ou dor abdominal persistente.
- Sintomas emocionais: ansiedade, depressão e estresse pós-traumático.
Importante destacar que nem sempre os sintomas são contínuos. Muitos pacientes relatam oscilações, com dias de melhora e recaídas repentinas.
Por que a Covid Longa Acontece?
Ainda não existe uma explicação única, mas a ciência já levantou algumas hipóteses:
- Restos do vírus no corpo:
Alguns estudos sugerem que partes do coronavírus podem ficar “escondidas” em certos tecidos, fazendo o sistema de defesa do corpo continuar em alerta, mesmo sem a infecção ativa.
- Defesa desregulada
O sistema imunológico pode ficar “desorganizado” depois da Covid-19, com inflamação persistente e dificuldade de se equilibrar novamente. - Autoimunidade
Em algumas pessoas, o corpo pode passar a atacar a si mesmo, como acontece em doenças autoimunes. Isso parece ser mais comum em mulheres, que têm maior risco de desenvolver Covid longa. - Reativação de outros vírus
Vírus que estavam “adormecidos” no corpo, como o Epstein-Barr (mesmo da mononucleose) ou o herpes, podem voltar a se manifestar após a Covid, piorando os sintomas. - Problemas nos vasos sanguíneos
A Covid pode afetar a circulação, causando pequenas alterações nos vasos e até microcoágulos. Isso pode explicar sintomas como cansaço, falta de ar e dores. - Lesões nos órgãos
Em alguns casos, a infecção pode deixar sequelas em órgãos como pulmão, coração, cérebro e músculos, o que contribui para sintomas prolongados. - Alterações no intestino
O vírus pode modificar a flora intestinal (microbioma), que tem relação direta com a imunidade e até com o funcionamento do cérebro. - Inflamação no cérebro
Alguns pacientes apresentam sinais de inflamação no sistema nervoso, o que pode causar problemas de memória, concentração, humor e sono. - Perda de condicionamento físico
Quem ficou acamado ou internado por muito tempo pode ter perdido massa muscular e resistência, o que dificulta a recuperação da energia no dia a dia.
Quem Está Mais em Risco?
A Covid longa pode afetar qualquer pessoa que tenha tido a infecção, mesmo aquelas que tiveram quadros leves. No entanto, alguns fatores aumentam o risco:
- Idade acima de 50 anos.
- Presença de doenças crônicas (diabetes, hipertensão, obesidade).
- Casos de Covid-19 moderada ou grave.
- Mulheres parecem ter uma chance discretamente maior de desenvolver sintomas prolongados.
A Importância do Acompanhamento Médico
O acompanhamento médico — especialmente com infectologista — é fundamental. Isso porque muitos sintomas da Covid longa podem ser confundidos com outras condições, atrasando o diagnóstico correto.
Além disso, mesmo com medicamentos modernos, algumas pessoas podem apresentar:
- Alterações metabólicas (colesterol, glicemia).
Disfunção hepática ou renal. - Problemas cardiovasculares pós-infecção.
- Alterações na função pulmonar
O infectologista avalia a evolução do quadro, solicita exames quando necessário e pode encaminhar o paciente a outros especialistas, como pneumologistas, cardiologistas, neurologistas, fisioterapeutas ou psicólogos.
Tratamento da Covid Longa
Atualmente, não existe um tratamento específico para a Covid longa. O cuidado é individualizado, baseado nos sintomas de cada pessoa.
As abordagens mais comuns incluem:
- Reabilitação pulmonar: exercícios respiratórios para melhorar a capacidade dos pulmões.
- Fisioterapia motora: indicada para quem apresenta fadiga intensa ou perda de força muscular.
- Acompanhamento psicológico e psiquiátrico se necessário
- Atividade física leve e progressiva: ajuda no controle do cansaço e na recuperação da energia.
- Nutrição equilibrada: apoio para manter energia, imunidade e saúde geral.
Impacto na Qualidade de Vida
A Covid longa pode afetar não apenas a saúde física, mas também a vida profissional, social e emocional. Muitos pacientes relatam:
- Dificuldades de retorno ao trabalho.
- Redução da produtividade por problemas de memória e concentração.
- Limitações em atividades simples, como subir escadas ou carregar peso.
- Preocupações financeiras decorrentes de afastamentos prolongados.
Reconhecer esses impactos é essencial para oferecer suporte adequado e reduzir o estigma.
Mensagem Final
A Covid longa é um lembrete de que os efeitos do coronavírus vão além da fase aguda. Embora ainda existam muitas perguntas sem resposta, já sabemos que o acompanhamento médico especializado e o cuidado multidisciplinar são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
👉 Se você ou alguém próximo continua com sintomas após a infecção por Covid-19, procure um infectologista.
Um diagnóstico preciso e um plano de tratamento individualizado fazem toda a diferença.
Referências:
- Cheng AL, Herman E, Abramoff B, et al. Multidisciplinary Collaborative Guidance on the Assessment and Treatment of Patients With Long COVID: A Compendium Statement. The Journal of Injury, Function, and Rehabilitation. 2025;17(6):684-708.
- Sharma SK, Mohan A, Upadhyay V. Long COVID Syndrome: An Unfolding Enigma. The Indian Journal of Medical Research. 2024;159(6):585-600.
- Zaidi AK, Dehgani-Mobaraki P. Long Covid. Progress in Molecular Biology and Translational Science. 2024;202:113-125.
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